2 mulheres e 4 garrafas de vinho
Há muito muito tempo, chutando aí uns 13 anos, duas amigas, Fulana e Sicrana (é com "S"? Se não for, vai assim mesmo), se encontraram na casa de uma delas na Barra para tomar um vinho e conversar. Sicrana, que tinha um bebê de 6 meses, estava passando pela enésima crise no casamento. Era tão enésima a crise, ela já nem desfazia a mala de impulso de deixá-lo: ficava ali guardada, embaixo da cama. E Beltrano, seu marido, como todo homem, nem havia percebido que havia uma mala embaixo da cama.
Voltando àquela noite, as duas estavam pondo a vida alheia em dia (fofocar jamais!), quando ingressaram na quarta garrafa de vinho. Isso mesmo: duas mulheres e quatro garrafas de vinho - equação nada boa quando um casamento está em crise. E o vinho começou a falar pela Sicrana, como se ela fosse um boneco de ventríloco. E as idéias foram surgindo, as revoltas tomando dimensões cavalares e os espíritos se exlatando. Num rompante, Fulana e Sicrana se entreolharam e, sem precisar de nenhuma palavra - apenas um olhar, pegaram a mala do impulso, o bebê (que também tinha sua mala do impulso), carrinho, banheira, baldinho de praia e sabe-lá-mais-o-que e desceram. No elevador, Fulana, amiga sempre solidária e após quatro garrafas de vinho era a própria Madre Tereza, acalma a amiga enrolando a língua:
- Fiiica tranqüila, amiga. Tô de xeu lado. Tem um quarrrrto lá em caxa pá voxê...
- Pô, voxê é amiga mexmo...
Chegaram ao térreo, descarregaram mala da mãe, mala do bebê, carrinho, banheira, baldinho de praia e sabe-lá-mais-o-que, e Fulana foi buscar o carro. Voltou ziguezagueando e disse:
- Aí, eu não exxtou achando o carrrrro...
- Sai da frentxxe, voxê extá bêbada...
Passam-se uns minutos...
- Olha, eu também num exxtou achando o carro... Acho que roubaram o possante...
As duas amigas, cambaleando, subiram mala da mãe, mala do bebê, carrinho, banheira, baldinho de praia e sabe-lá-mais-o-que, tocaram na vizinha e deixaram o garoto com a vizinha. Partiram para a delegacia de táxi. Chegaram na delegacia, havia um elemento esfaqueado na entrada. Foram ao delegado.
- Quando a senhora percebeu que tinham roubado seu carro, o que a senhora fez?
- Ah, seu guarrrda [ic], quer dizer, seu delegado [ic], eu xentei e chorei [ic]... Era para fazer outra coisa? [ic]
O delegado olhou pra cima e suspirou: será uma longa noite...
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