terça-feira, outubro 10, 2006

blind date...

chopp


Ainda me lembro do dia em que a Christiane, minha amiga do coração que conheço há uma vida, me ligou:

- Mary, vamos tomar um chopp? Queria que você conhecesse meu namorado novo, o Werner. Você vai ser a primeira!

- Claro! Tô doida para conhecê-lo! Onde? Como? Quando?

- Tem um aniversário de uns amigos dele que eu ainda não conheço e ele disse que vai levar um amigo dele pra você...

- Um amigo? Você conhece esse amigo? (isso é sempre furada!)

- Não, mas contei tudo sobre você. Acho que ele entendeu...

Bom, fui me encontrar com eles num barzinho no Jardim Botânico, que já não lembro mais o nome. Havia uma longa mesa cheia de casais e no meio dela, a minha amiga agarradinha com o namorado novo. Em uma das cabeceiras, um rapaz de costas sozinho conversando com uns amigos. Ela apontou discretamente para o rapaz e mexeu a sobrancelha indicando que era o meu blind date. Foi nesse momento que descobri porque o nome desse tipo de armação se chama blind date ou encontro às escuras. A gente deveria estar no escuro ou cego (blind) antes de poder criar uma primeira impressão do cara. Era um carinha branquinho, com espinhas na cara, franzino (eu o quebraria num amasso), aparelho fixo e os demais detalhes deletei da minha memória para não ter que marcar uma sessão de emergência com meu analista.

Quando voltei a fitar minha amiga, ela deu de ombros. Afinal, ela, que só me conhece há 32 anos, já tinha lido meus pensamentos. Mas vamos lá! Sem preconceitos! O cara pode ser simpático, agradável, bonzinho, prestativo etc.

Sentei-me junto dela sem deixar nenhuma cadeira vazia ao meu lado. Queria muito saber quem era o cara que estava fazendo minha amiga tão feliz sem ninguém por perto para atrapalhar. Ficamos ali absorvidos conversando, mas sabe quando você sente que está sendo olhado? É como se olhar da pessoa pesasse nos ombros. Era ele! E sorria. Até que sorrindo não era mal, pois os olhos brilhavam. Só consegui pensar numa letra da Rita Lee: apesar, contudo, todavia, mas, porém...

Christiane se levantou para ir ao banheiro e ele em menos de 30s estava sentado à minha frente. Não puxou assunto. Só ficou olhando... Freak! Ai meu Deus! Por que essas coisas só acontecem comigo? Caráleo! Sou pára-raio de malucos mesmo!

Como ele não falava nada e eu nada queria saber, resolvi bebericar meu chopp que estava geladíssimo. Peguei meu copo e o levei até a boca. Ele pegou um guardanapo e limpou o suor do copo que havia molhado a mesa. Pensei: Que gentileza!

Comecei a achar que talvez o prego não fosse tããão prego. Levei novamente o copo à boca. Ele pegou um guardanapo e limpou a mesa. Achei estranho... Vou fazer um teste! Novo gole. Nova limpeza. Socorro! Alguém me ajude! Procurei Christiane com os olhos que há muito havia voltado do banheiro. Ela olhava pra mim e se rasgava de rir do outro lado da mesa. Eu queria matá-la!

Aquela limpeza de mesa estava me enlouquecendo. Queria tomar meu chopp! Ia esquentar! E ele ia limpar a mesa! Pensei em pedir um canudo ao garçom, mas chopp de canudo é muito fundo de poço. Comecei a bolar como beber meu chopp sem que ele limpasse a mesa. Vi que ia ser um trabalho a duas mãos. Como sou destra, sou mais ágil com a mão direita. Passei a pegar o copo com mão esquerda e com mão direita, ficaria atenta aos movimentos do maluco. No que ergui o copo, ele veio com aquele guardanapinho infeliz na minha direção. Segurei a mão dele com força e disse:

- Pára com isso que está me enlouquecendo! Quero o meu lado da mesa molhado! Fica aí limpando o seu!

Ele ficou ainda mais pálido e logo depois foi ao banheiro e mudou de lugar na volta.

Ele mora hoje em Nova Iorque, casou-se, sua casa é praticamente um centro de esterilização de tão limpa...


man in lab


Pode?

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