sexta-feira, outubro 16, 2009

Enquanto isso em Roma antiga...



Era uma vez, duas amigas, Alê e eu, que voltavam a pé da praia de Ipanema de bar em bar, parando para um choppinho em cada um para enfrentar a longa e árdua caminhada até o Leblon. Chegamos, após 5 paradas estratégicas, ao nosso destino final: o Play, apelido carinhoso para os íntimos, também vulgarmente conhecimento como Veloso.

Encontramos outra amiga, a Ana, que estava acompanhada de uns amigos de uma geração anterior à nossa. Entre eles havia um coroa bem apessoado, eu diria interessante até, que iniciou imediatamente uma troca de olhares comigo.

Como em qualquer bar que sirva cerveja estupidamente gelada em copinhos americanos, meus favoritos por sinal, a rotatividade da mesa, seja de pessoas indo e vindo seja da ida freqüente ao banheiro, é grande. Na verdade, trata-se de uma verdadeira dança das cadeiras, porém sem aquela música pirante e sem alerta de que alguém vai roubar sua cadeira. Quando me dei conta o coroa bem apessoado que a partir de agora será chamado de Coroa, estava plantado ao meu lado com meu celular em suas mãos discando para seu próprio telefone.

Ele percebeu que havia sido pego em flagrante, se aproximou e me beijou do nada no meio do bar, sem a menor cerimônia, como se fosse meu namorado. Eu ainda estava meio perdida quando ele me disse:

- Você não sabe como estou feliz de ter te reecontrado... Como assim? Me reencontrado? Eu te conheço? Eu nunca te vi na vida, maluco!!!

E a conversa, ou monólogo já que eu fiquei literalmente sem palavras, seguiu assim:

- Pela sua aura, eu te reconheci. Carácoles! Ou bebi demais ou não bebi o suficiente para acompanhar essa conversa!

Segui em silêncio. Até porque eu não tinha a menor idéia do que dizer e olha que costumo ser bem articulada e espirituosa.

- Nós fomos casados em Roma Antiga. Eu não bebi o suficiente! Cadê minha cerveja???

- Éramos pobres. Eu era domador de leões para o César. Yeah! Right! E eu, com nome de Maria, devia ser a faxineira do César....

- Tivemos dois filhos Bruno e Bianca. Nomes super na moda em Roma antiga, por sinal. E o Bernardo e Bianca? Os ratinhos? Não entram nessa história louca, não?

- Mas você morreu no parto da Bianca. PQP! O cara me matou agora!!! Alguém me traz uma cachaça porque a cerveja não está dando conta, pleeeeaaaase!!!!!

- Mas eles cresceram super bem e foram crianças e adultos geniais. Deus do céu! Essa maluquice não acaba???

Ele me beijou de novo. Nem sei se retribui pois ainda me encontrava em estado de choque e saiu. Foi ao Jobi tomar um chopp com outros amigos. Me pediu que o esperasse. Pra quê, criatura de deus????? Tanto a Ana quanto a Alê perceberam que eu parecia perdida e me cataram para o banheiro. Contei todas as bizarrices que havia ouvido e de repente percebemos que a história tinha até trilha sonora: Psycho killer do Talking Heads. Começamos a cantar e perdemos um pouco a noção do tempo.

Ao voltarmos à mesa, o Coroa já tinha voltado, pago a conta da mesa toda (e olha que éramos 15 pessoas) e ido embora novamente.

Ele ainda me ligou algumas vezes, mas fingi que estávamos em Roma antiga, onde telefones e muito menos celulares existiam e sumi.

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