quinta-feira, agosto 24, 2006

pay-per-view

porn movie

- Pai, estou vivendo de filmes pornôs.

- O quê?!? O que você está dizendo??? Mas você não ia começar a trabalhar em uma empresa de tv a cabo?

- É brincadeirinha, pai. Estou trabalhando em uma tv a cabo sim. Trabalho negociando direitos de exibição de filmes eróticos para um canal de pay-per-view.

- Ah, minha filha, depois me explique isso melhor. Não estou entendendo mais nada.

Os dias na empresa de tv a cabo foram cheios de novidade. Eu nunca havia trabalhado em nada diferente de um banco (ô vidinha chata!!!) e de repente me vi prestes a lidar com filmes, telefonemas com produtoras de filmes nacionais e estrangeiras, festivais de cinema e, quem sabe um dia, glamour (viajei demais, né?).

As equipes do meu departamento eram compostas de um pesquisador de produtos e um negociador. No meu caso, o meu dupla era o João. O cara era um mago em pesquisa pela internet e nessa época o Google nem sonhava em existir. Nós mexíamos com filmes para os Telecines e os canais de pay-per-view, do Sexy Hot inclusive. Ele descobria distribuidoras e produtoras das quais eu nunca tinha ouvido falar e pedia os demos (não, não, no estou falando do capeta). Chegavam aos meus cuidados caixas e caixas de fitas com trechos de filmes eróticos com os títulos mais engraçados que se pode imaginar. O boy do departamento se divertia lendo-os. Eis alguns:

Tatiana na Inglaterra: o lado anal da nobreza

Tatiana no Egito: ela foi encontrada com 3000 anos de tesão acumulados

E assim iam os outros...

O primeiro dia no trabalho começou com uma reunião para me apesentar ao diretor do canal de pay-per-view.

x rated

- Bom, Maria Paula, acho que deve entender com a indústria de filmes eróticos funciona. Há cinco níveis diferentes de filmes:

  • Nível 1: são aqueles filmes que compramos para o Sexy Time do Multishow. São mulheres nuas em chuveiros ou na cama se acariciando levemente, mas nada é realmente mostrado.
  • Nível 2: filmes exibidos pelo Playboy Channel. Homem e mulher, penetrações, mas exibidas de maneira discreta. Nenhum orifício é mostrado.
  • Nïvel 3: é aquele filme pornô que se aluga em locadoras de vídeo. Homens, mulheres, hétero, homo, sexo explícito e muitos detalhes, todos os orifícios. É esse que negociamos, mas não podemos comprar filmes com cenas homossexuais nem filmes brasileiros porque o Dr. Roberto Marinho não aprova. Imagina se um dia uma dessas atrizes que exibimos aparece na novela das 8.
  • Nível 4: pedofilia e sexo com animais (o quê?!? Isso é do nível 4? O que vem no nível 5, então?)
  • Nível 5: vulgo Yakuza - cenas reais de estupro e mutilação de órgãos. Mercado negro. Você provavelmente nunca verá um filme desses na sua frente.

Houve também o caso do produtor de Los Angeles que tive que enfrentar quando o informei que o canal havia reprovado 25 dos 30 demos que ele havia enviado. Ele era o maior produtor de filmes eróticos dos Estados Unidos e pediu um relatório detalhado, filme por filme, com o motivo das reprovações. Liguei para o cara que selecionava os filmes e pedi o relatório.

- Maria Paula, venha até a minha sala. Conversaremos pessoalmente.

Ai meu Deus! O que me aguarda?

Chegando lá...

- Entre e veja. Olha essa penetração. Tem muita sombra. Como posso vender um filme onde não se vê a penetração direito? E as espinhas na bunda dessa mulher? Diz pra esse cara que não vou fazer relatório nenhum. Não sou obrigado a dizer porque não quero os filmes dele.

Houve um dia que recebemos o Manual Básico para Sexo Oral e o enviamos ao canal para avaliação. O filme foi por engano para o Telecine. O diretor do Telecine mandou, como de praxe, a avaliação do filme via mail.

"O filme não se encaixa na grade do nosso canal. É muito educativo e exatamente por este motivo deve ser encaminhado ao Futura."

Rolamos de rir, é claro!

Ai, os ossos do ofício...


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