segunda-feira, julho 31, 2006

dia da avó

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Da esquerda para direita: Tia Elza, Tia Cenila, eu, minha avozinha e Dani.


Dia 26 de julho foi o Dia da Avó. É uma pena que a gente só se lembre quando vê no RJTV aquelas matérias onde as vovós choram de emoção pelo seu dia.

A minha avó, D. Antonia ou D. Silvia (já já explico essa dupla identidade), sempre me lembra da data, mas só quando chego na casa dela ou quando não telefono. Ela chega de mansinho e diz:

- Hoje é dia da vó! Não vai me dar parabéns, não?

A minha avó é uma das pessoas mais doces que eu conheço, porém também está entre as mais loucas. Ela tem 87 anos, mas ninguém diz. Muito vaidosa, não sai de casa sem uma écharpe e um sapato de duas cores e não vai ao geriatra de jeito nenhum - diz que é coisa de velho! Admiro demais sua disposição, mas que é louca, ah! isso é. Quer ver?

Pergunte às minhas amigas de escola o nome da minha avó. Todas elas vão responder em coro: D. Silvia! Agora pergunte aos amigos mais recentes ou ao pessoal que trabalhou com ela no antigo Ipase (atual INSS): Antonia! Afinal, qual é o nome dela?

O nome dela é Antonia. Seu apelido é Silvia.

Como assim? Não entendi.

Era uma vez uma menina chamada Antonia que odiava os possíveis apelidos que poderiam derivar de seu nome: Tonica, Toninha sei lá mais o quê. Para evitar que a chamassem por quaisquer deles, adotou o nome Silvia (ela realmente amava o nome, pois minha mãe se chama Maria Silvia) e obrigou todos a ignorar Antonia e a chamá-la de Silvia. A coisa pegou de tal forma que todos os seu irmãos e irmãs a chamam de Silvia. E olha que ela vem de uma família de 11... Já no trabalho, não houve meios de fugir do nome. Ela teve que se conformar em ser Antonia. Pra mim, ela foi Silvia até eu completar 08 anos.

Como assim? Não entendi.

É o seguinte: meus pais se separaram quando eu tinha oito anos. Até aquele momento, vivíamos em uma casa em Sta Teresa onde cada um tinha seu quarto com seu banheiro. Após a separação nos mudamos para um apartamento em Laranjeiras, onde minha avó e eu passamos a dividir o banheiro. Minha mãe, para distinguir nossas toalhas, optou por monogramá-las. As minhas tinham MP. Até aí tudo normal, certo? E as da minha avó tinham AM. Pára tudo! O que está acontencedo? Quem é AM? Ou melhor, quem é a minha avó? Alguma agente secreta? Socorro! Passei horas tentando entender porque minha mãe tinha monogramado as toalhas da minha avó com aquelas letras. Confessem: não ia ser o máximo se ela fosse uma agente da CIA?

- Mãe, tem algo de errado com as toalhas do nosso banheiro. Quem é AM?

- É a sua avó, minha filha.

- Mãe, eu sei ler e a minha avó se chama Silvia.

- Não, minha filha. Sua avó se chama Antonia. E as inciais são para Antonia Martinez.

Meu mundo desabou! Quem? Como? Onde? Quando?

Mas ela continuou se apresentando a todos como Silvia. Aos 75 anos ela decidiu que gostava de Antonia e mudou para Antonia de vez.

Mas, como se diz em inglês: old habits die hard - o hábito faz o monge. Quem a conheceu como Silvia continua chamando-a de Silvia. Quem conheceu como Antonia a chama de Antonia e a conversa segue assim:

- Terezinha, você falou com a Silvia hoje?

- Falei com a Antonia, sim. Vamos jogar um carteado hoje mais tade.

Vai dizer que não parece conversa de bêbado?

A outra cena clássica da D. Silvia ou Antonia (chame-a como quiser) é a constante queixa de males dos 87 anos de idade.

- Ah, minha filha. A velhice é uma tristeza. Não estou enxergando mais nada. Mas, nadinha mesmo. Tenho que marcar meu oculista de novo. Fui no mês passado, mas acho que ele não me examinou direito. Estou cega cega...

Enquanto se queixa da pouca visão ela, sem óculos, enfia a linha na agulha e começa a costurar.

Ninguém merece!

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