A Dura

Há três semanas, depois de um dia de sol daqueles com céu de brigadeiro (coisas que só tornam o Rio mais impressionantemente belo), já na paz do meu lar, toca o meu celular e era a acompanhante da minha vó, vulgarmente conhecida como Vó Silva e Vó Antonia (sim, trata-se da mesma pessoa - leia: http://segredinhosecretinhos.blogspot.com/2006/07/dia-da-av.html), desesperada porque minha avozinha havia desmaiado. Correria para lá, correria para cá, ambulância, hospital. Tudo caótico, mas tudo ficou bem.
No dia seguinte, havia muito o que fazer: trabalhar (o que só atrapalha meu dia-a-dia), buscar as coisas da vovó para levar ao hospital, buscar minha mãe no aeroporto para ver minha avó e voltar pro hospital. Peguei o Aterro do Flamengo, a caminho do aeroporto, uma viatura da polícia começa a piscar os faróis. Eles querem passagem. Vou abrir caminho. E eles não passavam e continuavam piscando os faróis. Será que é comigo? Encostei o carro na entrada da antiga Porcão.
- D. Maria? Odeio que me chamem de D. Maria, mas meliante não discute com polícia.
- Sim?
- Dois anos sem vistoriar seu carro.
- É, seu Guarda. Eu sei. Tudo andou muito confuso nos últimos tempos... Me esqueci completamente...
- A Sra. sabe que isso dá uma multa de R$900,00 e apreensão do veículo, né?
- Apreensão? O Sr. vai levar meu carro?
- Sim, é a lei...
- Ah, seu Guarda... Minha avó tá no hospital, estou indo buscar minha mãe no aeroporto para ver a minha avó... Não é mentira... Pode ligar pro hospital. Aqui, o telefone. Pede para ligar pra CTI...
- É, minha Sra, não tem nada que eu possa fazer.
- Seu Guarda, como vou embora daqui? A gente está no meio do nada...
- De táxi...
- Tá. Tudo bem. E como faço para tirar meu carro do xilindró amanhã?
E ele me deu aquelas instruções burocraticamente assustadoras, mas não havia o que fazer. O carro ia pro xilindró... Liguei para a cooperativa de táxi.
- Eu quero um táxi, por favor.
- Endereço, por favor?
- Aterro do Flamengo, na entrada da Porcão...
- Minha Sra, sem endereço não dá...
- Mas qualquer motorista nesse Rio de Janeiro sabe onde é o Aterro do Flamengo e a entrada da Porcão. Até quem não dirige, sabe!
- Endereço, por favor?
- Seu Guarda, qual o endereço daqui?
- Pra que?
- Ué? O Sr, não vai apreender o meu carro?
- Calma, minha Sra. Desliga esse telefone. Estou falando com meu capitão... A Sra é legal. Nem está zangada comigo.
- Zangada com o Sr, seu Guarda? Tô é zangada comigo! Tô toda errada! E o Sr. só quer fazer o seu trabalho. Só que estou com pressa: minha vó está no hospital, tenho que buscar minha mãe..... O Sr. sabe...
- Bom, meu capitão disse que podemos dar um jeito se a Sra tiver uma parte da multa com a Sra.
(eu que sou uma pessoa que ainda vou apanhar de um flanelinha porque nunca tenho nenhum puto na carteira)
- Só tenho cheque... Aceita cheque?
- E cartão de crédito? A Sra tem?
- Seu Guarda, o Sr tá brincando comigo que viatura agora vem com a maquininha de cartão???? É VISA? Master?
O policial olhava para mim como se eu tivesse vindo de outro mundo...
- Não, minha Sra, é só para saber em que banco a Sra tem conta...
- Itaú...
- Então vamos a um caixa eletrônico.
- Seu Guarda, dá para ir no caixa do aeroporto? Assim eu deixo o carro no estacionamento, saco o dinheiro e pego a minha mãe.
- Minha Sra. no aeroporto vai dar muito na cara. (Meu deus! Agora caiu a ficha: ele quer propina!!!!! Eu nunca dei propina na vida!!! O que eu faço??? Não dá para comprar essa briga: minha avó tá no hospital, tenho que pegar minha mãe no aeroporto e o esse carro está vendido. PQP!!!!!!! Me ferrei!!!! E agora? Como saio dessa?)
O policial sugeriu que eu fosse escoltada pela viatura policial até um caixa eletrônico mais próximo, mas não consegui ir adiante...
Fiquei sem carro...